sábado, 15 de agosto de 2009

Artigo Pós Graduação - Professoras Poetas que tive o prazer de ensinar e aprender junto!


Resumo:

Este artigo discute a questão da postura de docentes frente a infância e os cuidados dispensados na educação infantil tanto na escola como na família. Abrange os aspectos educacionais para que se trabalhe em sala de aula de uma maneira a respeitar e valorizar a infância. Discute e questiona a forma de como se conduz o trabalho pedagógico realizado na educação infantil especialmente do gestor, supervisor e coordenador no processo de construção de um novo olhar.

Palavras-chave: infância, educação, professores, projeto e brincadeira


[1] Graduada em Pedagogia habilitação educação infantil e series iniciais pela Universidade do Vale do Itajaí – Univali, aluna do Curso Pedagogia Gestora com Ênfase em Administração, Orientação e Supervisão Escolar da Associação Catarinense de Ensino.
“Lili inventa o mundo do faz de conta
Faz de conta que isto e um avião, Zum...
Depois aterrizou em pique e virou trem
Tu,tu,tu,tu...
Entrou pelo túnel chispando
Mas debaixo da mesa havia bandidos
Pum!Pum! Pum!
O trem descarrilhou. E o mocinho?
Meu Deus!
No auge da confusão levaram Lili para a cama a força.
E o trem ficou tristemente derrubado no chão, fazendo de conta que era
Mesmo uma latinha de sardinha”.
(Mário Quintana)

Trazemos para a abertura deste artigo um dos muitos poemas que expressam a rotina das crianças nas instituições escolares especialmente nas de educação infantil que nos fazem refletir sobre a prática diária dos professores e supervisores destas instituições, uma vez que estes são responsáveis pelo trem que ficou derrubado no chão da sala. Um momento da vida tão singular e plural ao mesmo tempo... ao qual chamamos de infância e que está sob nossos cuidados, nossos olhares ou ao que queremos ver e cuidar.

Frente a esta escolha, decidimos observar este olhar e este cuidar buscando compreender a rotina da escola, mas, acima de tudo, respeitar a criança e sua infância que se revelam nas suas fantasias, imaginações, em suas múltiplas linguagens, em seus constantes movimentos, em suas várias expressões, em suas manifestações espontâneas, em suas criações, suas produções e também recriações e reproduções. É evidente que para sermos parceiros da infância e valorizar este momento com toda a atenção que esta fase merece é preciso estar aberto para quando as crianças estiverem nos mostrando o seu mundo e suas expectativas, alegrias, emoções, brincadeiras, sentimentos, silêncios, choro, olhares, tudo que é representado neste período da vida que só é possível pela inserção do professor nesse mundo inusitado e fantástico, entendendo o que as crianças desejam para si, respeitando seu direito de viver de forma digna e prazerosa.

Podemos defender a educação das crianças pequenas com base no respeito e no comprometimento. Loris Malaguzzi disse que os programas para crianças pequenas distorcem e ultrajam a sua própria natureza quando não mantém uma relação com as famílias, a cultura e os assuntos locais e quando são, de alguma maneira, impedidos de terem um dialogo livre e democrático com o ambiente que operam.
(BAMBINI, 2002,p.158)


Apesar do compromisso com o resultado escolar que a escola prioriza e que, em geral, resulta numa padronização, estão em jogo, na educação infantil, as garantias dos direitos das crianças ao bem-estar, à expressão, ao movimento, à segurança, à brincadeira, à natureza e também ao conhecimento produzido e a produzir. Esse conjunto de relações terá, pois, como objetivo a própria criança, seus processos de constituição como seres humanos em diferentes contextos sociais, sua cultura, suas capacidades intelectuais, criativas, estáticas, expressivas e emocionais.

A critica observada não é negar o contato das crianças com o conhecimento historicamente acumulado pela sociedade, mas sim negar a negação da infância em prol de uma pedagogia desenhada a partir dos fundamentos educacionais do ensino fundamental no sentido de antecipação do processo de escolarização que está falido ou nada traz de aprendizagem significativa para as crianças.

O comportamento e os movimentos sociais dos jovens comprova a falta de respeito a cultura e educação quando temos tanto analfabetos funcionais, tanta violência e diferença social. Exemplos que mostram que a escola não está dando conta de sua função social que é a de ensinar, proporcionar conhecimento científico e tornar o cidadão critico capaz de transformar para melhor a sociedade na qual está inserido, ou seja, a escola está mantendo a sociedade atual.

O rompimento com essa visão de ver e considerar as crianças da educação infantil como alunos se preparando para o ensino fundamental exige uma mudança. É preciso desconstruir e problematizar. Trata-se do nosso não-saber; é preciso desequilibrar-se para que possamos compreender este desafio, reconhecer a criança como potência numa experiência crítica de formação humana, posicionando-a como atriz social, garantindo que ela seja criança e que construa conhecimentos e cultura infantil.
A escola de educação infantil precisa prezar pela aprendizagem, convivência, experiências e trocas culturais; estar aberta a novas experiências e perceber que a pedagogia do rigor, da repetição, do enciclopedismo, do conteudismo, descolados da realidade curiosa e investigativa própria da criança só marginaliza o papel da escola e do professor. Nestes momentos, marcamos as crianças e negamos a elas a possibilidade de transformação social.

A aprendizagem não e um ato cognitivo individual realizado quase em isolamento na cabeça da criança. A aprendizagem e uma atividade cooperativa e comunicativa, na qual as crianças constroem conhecimento, dão significado ao mundo, junto aos adultos e igualmente importante com outras crianças por isso enfatiza que a criança pequena como aprendiz e co-construtor ativo. A aprendizagem não e a transmissão de conhecimentos que conduz a criança a resultados pré – ordenados, nem a criança é um receptor passivo. (DAHLBERG, MOSS E PENCE, 2003, p.72)

Em todas as funções de docentes observadas, professores \supervisores e orientadores, entre outros papéis observados ou os que forão possíveis observar ressaltam o enigma que é a infância e, apesar de observar os diversos papéis sociais que um professor desempenha, ao final deles, ficaram os mesmos questionamentos e as mesmas certezas em relação às crianças e aos professores, ao que queriam e desejavam.


Eu queria uma instituição onde a criança não tivesse que saltar as alegrias da infância, apressando-se, em fatos e pensamentos, ruma a idade adulta, mas que pudesse apreciar em suas especificidades os diferentes momentos de suas idades. (SARMENTO,1999,p. 29)

Alguns destes muitos momentos observados que, nas entrelinhas, fazem pensar nas relações entre infância, educação e pedagogia, “A matéria-prima do educador não e o conhecimento, é a pessoa humana que conhece” (MADALENA,2004,p. 22)

Conceber a criança como uma folha em branco, um vir a ser no mundo, uma tabula rasa, a dar a ela um círculo para colar bolinhas amassadinhas dentro. As crianças falam com olhares, com choros, com mordidas reagem aos espaços que lhe são oferecidos, quer brincar na areia, jogar bola, empurrar o carrinho de bonecas, varrerem a casinha do parque, pintar o rosto e descobrir as cores no espelho; querem um espaço para brincar e, à medida que este espaço é negado reagem negativamente.

É preciso assegurar o direito de brincar, criar,aprender, enfrentando os desafios de pensar a creche, a pré-escola e a escola como instancias de formação cultural, o desafio de pensar as crianças como sujeitos de culturas e historia, como sujeitos sociais. (KRAMER, 2003,p.10)

Ao ler os apontamentos de Sirota (2001, p. 28) “trata-se de compreender aquilo que a criança faz de si e aquilo que se faz dela, e não simplesmente aquilo que as instituições inventam para ela”, esclarece o papel fundamental do professor em direcionar, proporcionar e respeitar a infância destas crianças que fazem parte da sua turma responsabilidade muitas vezes menosprezada quando observamos a formação deste professor e o respeito dispensado a ele por parte dos gestores quando até mesmo a remuneração destes é menor dos que atuam no ensino fundamental e médio.
O professor de educação infantil deve preparar-se para ser um pesquisador capaz de avaliar as muitas formas de aprendizagem que estimula a pratica cotidiana, as interações por ele construidas com crianças e famílias em situações especificas. Ele e alguém cuja riqueza de experiências vividas deve ser integrada ao conjunto de saberes que elabora o seu fazer docente. (ZILMA, 2003, p.06)

Desenvolver um trabalho significativo e comprometido com as prioridades da infância das crianças na escola depende, sobretudo do trabalho escolhido a ser desenvolvido na escola, a “Pedagogia de Projetos” proporciona movimento e flexibilidade entre o cuidar e educar na educação infantil.


A pedagogia de projetos e um dos modos de organizar o ato educativo que indica uma ação concreta,voluntária e consciente que e decidida tendo-se em vista a obtenção de alvo formativo determinado e preciso. E saber partir, na pratica escolar, de uma situação problema global dos fenômenos, da realidade fatual e não da interpretação teórica já sistematizada nas disciplinas.(HERNANDEZ,1998,p.12)


O papel do gestor / supervisora é participar e prezar junto com os professores que a função social da escola seja mantida, mas, acima de tudo, que as crianças tenham infância e direitos, o que a pedagogia de projetos possibilita com facilidade dentro da escola. Durante o desenvolvimento dos projetos, as crianças e os professores estão sempre planejando cooperativa e solidariamente, decidindo caminhos e propondo atividades que “dêem e alimentem“ a temática em torno da qual se concentra o trabalho, prevendo sempre diversas portas abertas de entrada, as quais possibilitam navegar em diversas áreas do conhecimento.

Acreditar nos projetos como uma proposta de trabalho possibilita momentos de autonomia e de dependência do grupo, de cooperação sob uma autoridade mais experiente e de liberdade, momentos de individualidade e de sociabilidade, de interesse e de esforço, de jogo e de trabalho como fatores que expressam a complexidade do fato educativo.

O papel dos pais é de grande importância para o respeito à infância e a brincadeira observa-se que muitos têm uma concepção escolarizada da educação infantil e insistem em adiantar as crianças, em desrespeitar a infância, em enxergar seus filhos como mini adultos, em ver as outras crianças que não seus filhos como outros, em desvalorizar a brincadeira e o lúdico, em determinar espaços, brincadeiras, comidas, tempo de sono, tempo de brincadeira, tempo de desfralde,uns têm muitas regras, outros não cumprem nenhuma; uns têm tempo demais, outros de menos; alguns têm tempo de qualidade, outros de quantidades etc...

A todos estes o gestor/supervisor desempenha função fundamental pois no dia a dia no contato com a rotina escolar e com a comunidade escolar especialmente, cabe a ele informar e proporcionar momentos de reflexão e aprendizagem tendo em vista garantir os direitos da infância em prol de conscientizar e transformar a forma de ver as crianças e a infância os desafios da educação em geral, e da criança pequena , em particular.


Como garantir que a criança seja criança, construa conhecimentos e a cultura infantil, e aprenda outros conhecimentos, de outras culturas, preparando-se para continuar criando ( sem esconder seu lado criança ) como aluno, como adulto, em um mundo de diversidade, antagonismos e contradições.(FARINA, 2004,p.19)

O objetivo principal nas relações educativas travadas nestes espaços de convívio coletivo neste caso a escola de educação infantil, considera – se a criança e a família como sujeito principal de todo o fazer pedagógico orientando, acalentando, assegurando de acordo com as necessidades e individualidades das crianças.

Olhares de poetas no sentido de ter a sutileza de perceber os detalhes, os momentos importantes da vida questiona - los e com seus versos , o melhor, fazem descobrir respostas nunca pensadas.

Rubem Alves (2002, p. 04): “educador não é aquele que fornece respostas prontas e sim aquele que levanta questionamentos”.

Machado de Assis (2003, p. 118), “A arte de viver consiste em tirar o maior bem do maior mal” Isto apenas já seria um bom motivo para repensar a educação na sociedade atual, pois mudar a prática educativa implica mudar concepções e enfrentar a roda viva já existente de frente, tirando dela o maior bem que puder, dado à distancia entre o ideal e o real que vivemos hoje, mesmo que tenhamos milhares a desencorajar, pois o que importa é deixar explícito que qualquer aprendiz, seja ele professor, pai, aluno, criança, bebê precisa ser estimulado, incentivado, encorajado.

Afinal, aprender e aproximar-se do novo, do desconhecido, é muito importante e o professor precisa ter olhos e ouvidos de poeta para se tornar um alguém para que as crianças tenham em quem confiar, alguém que diga “vá”, alguém que diga “vem”, ou alguém que seja capaz de dizer “vamos”.

Mas, para isto é preciso ter professores capacitados e comprometidos a função exercida saber de sua potência na vida dos alunos, capaz de olhar e de se fascinar com a vida e com as múltiplas possibilidades que ela apresenta.




Referências
ALVES, Rubem: Se eu pudesse viver minha vida novamente. Campinas, SP, Versus, 2006.

ASSIS, Machado: Dom Casmurro grandes Leituras. Ftd, 2003. SP.

FARINA, Ana Lucia Goulart. Marina Silveira Palhares ( ORGS): Educação Infantil Pos – LDB Rumos e desafios. Florianópolis,SC, editora da UFSC,2001.

FREIRE , Madalena: A paixão de conhecer o mundo. Paz e terra, SP, 2004.


HERNANDES, Fernando: transgressão e mudança na educação. Artmed, Poa, RS, 1998.

KRAMER.Sonia, LEITE,Maria Isabel et al (orgs.) Infância e educação infantil .campinas, SP.Papirus,1999.

LORROSA,Jorge e LARA,Nuria Peres de (orgs) Imagens do outro. Petrópolis, RJ: Vozes,1998.

SARMENTO,Manuel J E Pinto. Manuel.( coord). Saberes sobre as crianças: para uma bibliografia sobre a infância e as crianças em Portugal. Braga, Portugal : Universidade do minho,1999.

SIROTA, Regine Emergência de uma sociologia da infância: evolução do objeto e do olhar.Cadernos de Pesquisa, São Paulo,n 112, pp7-31, mar.2001.

TONUCCI,Francesco. Com olhos de crianças. POA. Artes Medicas, 1997.

TRINDADE, Loretto, AZOILDA, Multiculturalismo mil e uma faces da escola,RJ , DPEA, 2002.

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