quarta-feira, 25 de agosto de 2010

DILMA.....Eu sou... Texto de Rita do blog Estrada Anil


Os tempos são outros, quem há de negar? Essa semana vi por aí (queria lembrar onde, para pôr o link aqui) alguém usando aquela velha frase “não vamos jogar a criança fora junto com a água suja da bacia” para falar da situação atual do país - e achei bem pertinente. Acho normal querer ressaltar os pontos ruins de uma administração que não apoiamos e também alardear os bons feitos dos nossos preferidos. Acho humano mesmo. Somos assim, tendenciosos, parciais. É importante ter consciência desse estado para que possamos avaliar nossos discursos e procurar por nossos tropeços. Acho que a consciência em torno de nossa parcialidade deve morar lá na gênese do pensamento crítico, impulsionar nossos questionamentos e diminuir a cegueira fácil. Se nos acreditarmos 100% imparciais, nossas avaliações estão fadadas ao fracasso.


É um exercício difícil esse de nos esforçarmos para enxergar o erro cometido por quem gostamos, o tropeço daquele que apoiamos, o vacilo daquele em quem apostamos nossas fichas. É ruim, desconfortável, mas necessário. Talvez ainda mais difícil seja o outro exercício, o de enxergar o sucesso de quem não gostamos, aplaudir o acerto de quem queríamos ver derrotado, apoiar bons planos e atitudes de nossos desafetos. Mas, igualmente, é um exercício necessário.


Muita gente consegue êxito nos dois. Consegue reconhecer que sua impressão estava equivocada, entender que o bem maior justifica o apoio a quem antes queria ver pelas costas. Mas é difícil, reconheço.


Tudo isso para dizer que entendo que tanta gente se recuse a votar na candidata do governo à Presidência da República alegando para isso que o Governo do Lula pecou muito. Que ele deixou de cuidar de um monte de coisas em seus oito anos de governo, que as melhorias na educação não tiveram o volume que gostaríamos de ver, a segurança pública não transformou o Brasil numa Islândia, muitas estradas isso, muitos portos aquilo, etc. Tudo relevante e digno de nota para os governos futuros. Isso é a água suja da bacia. Mas eu vou me agarrar à criança.


Nas vezes em que votei no Lula (todas em que ele foi candidato), não votei por mim. Talvez nas primeiras, sim, tenha votado por mim também, pois era estudante e queria ver um país melhor para “o meu futuro”. Mas à medida que o tempo foi passando, e o Lula seguiu se candidatando (ainda bem), os motivos pessoais por trás do meu voto me abandonaram e passei a votar quase que exclusivamente pelos outros. É que olho ao redor e percebo que dependo menos das políticas públicas do que os milhões de brasileiros que estão abaixo de minha família na pirâmide. Dependemos também, claro, todos dependemos, mas no caso da minha família essa dependência não compromete nossa rotina no mesmo nível em que compromete a rotina de quem não pode abrir mão de nenhum serviço público essencial: raramente ando de ônibus, meu filho estuda em escola particular, temos plano de saúde, moradia própria e empregos que nos permitem pagar as contas e planejar o futuro.


A convicção de que não podemos votar pensando em nossos umbigos vem de uma constatação muito simples: no fim das contas, se o país vai mal, a parte que nos sobra dói menos do que aquela que sobra para quem ocupa as camadas mais baixas da pirâmide. Se há uma recessão, por exemplo, a gente compra menos; mas muita gente come menos. Então meu voto não é meu. Claro que continuo querendo que meu país melhore - tanto mais agora, que tenho filhos - mas minha preocupação, ainda que real, certamente é menor que a da mãe que tem filho em escola pública, tem um subemprego e está endividada. Então meu voto é pra ela.


Pois bem. Então gostei demais do governo do Lula, gostei muito mesmo, porque vi se concretizar o motivo que esteve na base de cada voto que dei a ele: em seu governo, milhões e milhões de brasileiros melhoraram suas condições de vida; entre 2003 e 2008, 27 milhões de pessoas migraram das classes D e E para a classe C, e 20 milhões saíram da extrema pobreza. É mais gente comendo. Mais gente com emprego fixo, com acesso a bens que melhoram seu dia a dia, como geladeira, fogão, roupas, aquecendo a economia e gerando mais emprego na bola de neve que manteve o país de pé, firme, mesmo durante a maior crise financeira que o mundo capitalista enfrentou nos últimos tempos. Muita gente falhou no exercício de admitir o sucesso de quem não gostamos e disse que o Lula teve “sorte”. Tsc tsc. Eu votei no Lula para que a miséria do país encolhesse. E isso aconteceu. Fato.


Eu gostei, gostei mesmo, de ver dinheiro sendo empregado em programas que os desafetos do Lula adoram chamar de assistencialistas e populistas, porque eles fizeram toda a diferença na vida de pessoas que não tinham o pão que eu nem sei quanto “pesa” no meu orçamento. E claro que ensinar a pescar é necessário - e isso se faz melhorando o país como um todo, o que o Governo também fez nos últimos anos - mas dar o peixe, queiramos ou não, é questão de humanidade em um país com tantos miseráveis. Quem quiser que vire as costas, eu gostei do que o Lula fez.


Há muitos outros motivos que, para mim, fizeram do Governo Lula o melhor que esse país já teve. O país cresceu, diminuiu o desemprego, atraiu investimentos, ganhou respeito internacional. Mas há todo o tanto que ainda precisa ser feito. E, claro, houve aqueles momentos em que senti vergonha, como quando vejo o Sarney ali, do lado. Sinto muito, muito mesmo, tenho vontade de sumir, fingir que não é comigo, não tenho argumentos, não há desculpas. Alianças? Poderiam ser outras, pelamor! Mas isso não tira meu voto, não na atual conjuntura. Porque é preciso manter o foco e tocar o bonde. E continuar. Isso mesmo, continuar. (Eu simplesmente ignoro a apelação tucana por trás do conveniente versinho “mas a alternância de poder é fundamental para a democracia”. Não. A escolha é fundamental. E eu acho que o país agora quer continuar.)


Bem, sei que eu quero. Quero continuar a ver melhorias no mundo das pessoas que sempre levam a pior. Não estou satisfeita com tudo, como poderia? Eu estaria satisfeita se os desabrigados das enchentes de Alagoas e Pernambuco já tivessem recebido o tratamento adequado em um país que respeita seu povo e tivesse sido resgatado do estado de isolamento em que se encontram. Estaria satisfeita se estivesse vendo surgir uma discussão séria e engajada em torno do sistema prisional de nosso país, urgência urgentíssima, para antes de ontem. Estaria satisfeita se as escolas fundamentais públicas fossem modelo de excelência e sues professores fossem bem remunerados. Etc. Mas, ainda assim, tenho convicção de que o grupo que tem algum interesse na melhoria real do país, socialmente falando, é o grupo do atual governo.


Então além de votar na Dilma, vou votar em candidatos a deputados e senadores de partidos governistas, para não ter erro: quanto mais parlamentares apoiarem os projetos do Governo, maiores as chances de aprovação. 1+1.


E, finalmente, tem a tietagem, sabe, gente. Ah, eu não poderia deixar de dizer. Eu sou tiete, sou tiete sim. Eu preciso falar, com o peito estufado: eu tenho um orgulho danado do meu presidente. Eu gosto dele, sabe? Gosto pra caramba, nem consigo dizer o tanto. E mesmo antes de ver aquele filme, eu já tinha essa imagem na minha cabeça, do garoto de infância miserável, correndo pelo chão do sertão de barriga estufada e pernas finas, sem ter noção dos rumos por onde a vida lhe levaria. O Lula criança vai morar para sempre no meu imaginário, gosto de pensar na trajetória de vida dele, dos preconceitos que ele ajuda a derrotar, das limitações que ele superou. Eu gosto daquele menino. E quem quiser que tente ter quase 80% de aprovação ao final de oito anos de mandato, tendo contra si toda a grande mídia, fazendo campanha contra todos os dias. O país não é mais o mesmo, que bom.


Vou sentir saudades. E sei que não estou sozinha, viu? Mas conto com a Dilma para amenizar a falta e ver o legado do Lula ser tocado com fibra. Então, a quem interessar possa, voto na Dilma, é com ela que eu vou. “Ah, Rita, mas aí você está votando na Dilma por causa do Lula. Mas a Dilma não é o Lula!”. Eu sei. E é isso mesmo. Eu voto nela porque ela esteve ao lado dele esse tempo todo e é coadjuvante em tudo isso que falei aí em cima, para o bem ou para o mal. Então é o mais perto que eu consigo chegar de votar no Lula novamente. É que só sei votar nele, gente. Viciei.

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