quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A criança e suas múltiplas linguagens


A criança e suas múltiplas linguagens
Karine Rodrigues Ramos

“A linguagem está no mundo e nós estamos na linguagem” Pierce

A linguagem permeia o trabalho na educação infantil, junto com a brincadeira e a interação, constitui os eixos da ação pedagógica junto às crianças. Por vezes quando falamos em linguagem é comum remetermos à linguagem verbal e escrita, igualmente fundamental para o desenvolvimento infantil, no entanto, algumas professoras acabam priorizando essas duas formas de linguagem na educação das crianças, em detrimento de outras, privando-as de novas vivências, novas experiências que ampliem seus conhecimentos. Nesse sentido, a educação infantil vem buscando superar esse entendimento de linguagem e considerando que a criança se comunica e se expressa por meio de múltiplas linguagens, de “cem linguagens” como escreve Loris Malaguzzi em sua poesia.
Não é de hoje que a expressão “linguagem” faz parte das discussões sobre currículo da educação infantil. No entanto, ainda hoje, a maioria dos profissionais da educação infantil ou não - significa linguagem como língua, relacionando-a restritamente á linguagem verbal oral e escrita. Isso não é por acaso. Investigando as origens dessa restrição, descobrimos, por exemplo, que Piaget vai buscar a fundamentação teórica em Saussure, o qual desenvolve conceitos teóricos capazes de descrever e analisar as leis articulatórias da língua, ou seja, a língua como sistema ou estrutura regida por leis e regras especificas da linguagem oral e verbal. Devido à enorme influência de Piaget junto à educação infantil, não é estranho, portanto, compreendermos a significação da expressão linguagem restrita a língua – falada e escrita.
E como explicar então, a existência das mais de cem linguagens pregadas pela educação infantil de Reggio Emília, na Itália, e entre as tantas linguagens o movimento, a música e as artes visuais indicadas no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil?
Iniciaremos está resposta investigando a linha de fundamentação destes trabalhos. A resposta que encontrei foi que eles foram beber em outra fonte a fonte da semiótica de Pierce, eles acreditam que cada uma das linguagens, verbais e não verbais, tem seu conjunto de regras e princípios de funcionamento próprios, ou seja, é toda e qualquer produção humana e da natureza verbal e não verbal, permitindo que se dêem e a conhecer e a dialogar com eles mesmos e uns com os outros.



Nesse sentido, cada uma das linguagens que permeia o trabalho da educação infantil – desenho, pintura, modelagem, escrita, classificação, seriação, quantificação, literatura infantil, jogos, brincadeiras, fenômenos da natureza, etc. – tem seu conjunto de regras e princípios de funcionamento próprios. Portanto, elas são diferentes umas das outras, requerendo investimentos diferenciados para serem apropriadas por crianças e professores. Esse diálogo vai sendo produzido pela interação intencional e articulada desses dois sujeitos entre si e a multiplicidade de linguagens em que as crianças produzem-se como crianças, os professores produzem-se como professores e, juntos, produzem a relação pedagógica.
Cada professor deve dialogar consigo mesmo, buscando não apenas o que lhe faz mais sentido, como também aquilo a que resiste, evita, teme e assim aprendemos e ensinamos novas linguagens, novos olhares e novas possibilidades de aprendizagem.

Fonte: Gabriel de Andrade Junqueira Filho
Revista Pátio

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