domingo, 25 de março de 2012

A crise ....





Escrevo aqui para socializar e para sempre tirar algo de bom dos momentos de crise...



Ressalto aqui os estágios do desenvolvimento psicológico segundo a psicologia sociohistórica, a transição de uma etapa de desenvolvimento infantil para outra é caracterizada por crises. Estas surgem no limite entre duas idades e asinalam o fim de uma etapa precedente do desenvolvimento e o começo do seguinte.



Ao abordarmos a questão da atividade principal e do seu significado
para o desenvolvimento da criança em determinado período
não queremos dizer que, simultaneamente, não exista nenhum desenvolvimento
em outras direções. Para Elkonin (1987, p. 122) as atividades
da criança são variadas e “(...) seu surgimento e conversão em
atividade principal não eliminam as existentes anteriormente, senão
que só mudam seu lugar no sistema geral de relações da criança com
a realidade, as quais se tornam mais ricas”. A transição de uma etapa
de desenvolvimento infantil para outra é caracterizada por crises. Estas
surgem no limite entre duas idades e assinalam o fim de uma etapa
precedente de desenvolvimento e o começo da seguinte.
Vygotski (1996) identificou as seguintes crises: crises pós-natal
– primeiro ano (2 meses-1 ano); crise de 1 ano – infância precoce (1
ano-3 anos); crise de 3 anos – idade pré-escolar (3 anos-7 anos); crise
dos 7 anos – idade escolar (8 anos-12 anos); crise dos 13 anos – puberdade
(14 anos-18 anos); e crise dos 17 anos. Nesses períodos de
crise – que podem durar vários meses, um ano, dois ao máximo – produzem-
se mudanças bruscas, rupturas na personalidade da criança.
Conforme Vygotski (idem, ibid., p. 256-257), algumas característi74
Cad. Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 64-81, abril 2004
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A periodização do desenvolvimento psicológico individual na perspectiva...
cas estão presentes nesses períodos: 1a.) os limites entre o começo e o
final da crise e as idades contíguas são totalmente indefinidas – as
crises originam-se de forma imperceptível e é difícil determinar o
momento de seu começo e fim; 2a) um grande número de crianças
que vivem essa fase são difíceis de educar, elas podem ter conflitos
com outras pessoas e consigo mesmas, no entanto não é sempre assim,
pois os períodos críticos são distintos em diferentes crianças; 3a)
o negativismo é uma característica marcante. Esses períodos, portanto,
são caracterizados por uma atitude de negativismo com relação às
exigências antes cumpridas: as crianças tornam-se desobedientes, caprichosas,
contestadoras, e, muitas vezes, entram em conflito com os
adultos que as cercam, geralmente com os pais e professores.
Bozhóvich (1987, p. 255) reforça essa idéia afirmando que todas as
peculiaridades das crianças que vivem um período crítico indicam
frustração, que surge como uma resposta à privação de algumas necessidades
essenciais ao sujeito. Portanto, o autor conclui que essa reação
de frustração ocorre quando as crianças não satisfazem suas necessidades
ou quando, inclusive, reprimem ativamente aquelas novas
necessidades que surgem no final de cada etapa de desenvolvimento.
No desenvolvimento de períodos críticos, com relação aos períodos
estáveis, “(...) passam ao primeiro plano os processos de extinção
e retirada, decomposição e desintegração de tudo que se havia formado
na etapa anterior e caracterizava a criança de dita idade. A criança
perde o que já tinha conseguido antes de adquirir algo novo”
(Vygotski, 1996, p. 257). Ela perde os interesses que ultimamente
ocupavam a maior parte de seu tempo e atenção, e agora é como se
houvesse um esvaziamento das formas de suas relações externas, assim
como de sua vida interior.
Os períodos de crise que se intercalam entre os estáveis, “(...)
configuram os pontos críticos, de mudança no desenvolvimento, confirmando
uma vez mais que o desenvolvimento da criança é um processo
dialético em que a passagem de um estágio a outro não se realiza
pela via evolutiva, senão revolucionária” (idem, ibid., p. 258). As
crises mostram a necessidade interna das mudanças de estágios, da
passagem de um estágio a outro, pois surge uma contradição aberta
entre o modo de vida da criança e as suas possibilidades que já superaram
esse modo de vida. No entanto, de acordo com Leontiev
(1998a), essas crises não são inevitáveis: o que são inevitáveis são os
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Marilda Gonçalves Dias Facci
momentos críticos, a ruptura, as mudanças qualitativas no desenvolvimento.
É por isso, segundo Leontiev (1978), que atividade se reorganiza.
As necessidades internas e externas levam a criança a mudar
de interesse, a formarem-se novas atividades dominantes, num processo
dialético entre o “velho” e o “novo” em termos de capacidades,
habilidades, aspirações e formações psicológicas. Utilizando, neste aspecto,
as palavras de Davidov (1988), podemos dizer que o que era
uma atividade principal, na passagem de um estágio para outro, torna-
se “latente”, exercendo uma influência “subterrânea”.
Para Vygotski (1996) as idades constituem formações globais e
dinâmicas e as estruturas determinam o papel e o peso específico de
cada linha parcial de desenvolvimento. Em cada período de idade não
se modificam, no transcorrer do desenvolvimento, aspectos isolados
da personalidade da criança. A personalidade da criança modifica-se
em sua estrutura interna como um todo e as leis que regulam esse
todo determinam a dinâmica de cada uma de suas partes. Por esse
motivo, em cada etapa de idade encontramos sempre uma nova formação
central (ou neoformação) que funciona como uma espécie de
guia para todo o processo de desenvolvimento que caracteriza a reorganização
de toda a personalidade da criança sobre uma base nova. A
estrutura de cada idade anterior transforma-se em uma nova que surge
e se desenvolve à medida que ocorre o desenvolvimento da criança.
Para entender essa estrutura é fundamental levar em consideração que
a relação entre o todo e a parte é uma relação dinâmica que determina
as mudanças e o desenvolvimento tanto do todo como das partes.
Por meio de suas pesquisas Vygotski (1996), concluiu que, na
análise da evolução do desenvolvimento infantil, é preciso, pois: 1º) estudar
a dinâmica da idade para esclarecer como a situação social influencia
nas novas estruturas da consciência da criança nos diversos períodos
evolutivos; 2º) estudar a origem ou gênese das novas formações
centrais de determinada idade; 3º) estudar as conseqüências advindas
dessas novas estruturas de idades, pois a nova estrutura da consciência
adquirida significa que a criança percebe distintas maneiras em sua vida
interior, assim como o mecanismo interno de suas funções psíquicas; e
4º) observar, além das transformações internas, a mudança de comportamento
na relação com outras pessoas, pois essa reestruturação da situação
social de desenvolvimento constitui o conteúdo principal das
idades críticas.















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quinta-feira, 22 de março de 2012

Reggio Emilia 2012

Mestrado em História da Educação




O mestrado em história da educação está me levando para um "mundo estrangeiro" como diz o meu maravilhoso professor Dr. Norberto Dallabrida. Estou tão feliz e encantada com todo o conhecimento que estou adquirindo que quero compartilhar com vocês uma leitura que relaciona a atualidade com o passado. Será? Estamos lendo VIGIAR E PUNIR - Foucault.

SEGUNDA-FEIRA, 12 DE MARÇO DE 2012
Bruxas se diziam cristãs puríssimas e hoje são chamadas de místicas

Título original: Domingão no parque em 1310 por Luiz Felipe Pondé para Folha


Uma das coisas que mais me espantam é o encanto que muita gente alimenta pelos hereges medievais, associado à quase total ignorância sobre suas heresias. Confundem-se manias "teenagers" com heresias sérias.Faça uma "regressão para vidas passadas" em alguém e verá que ela foi uma bruxa queimada na Idade Média ou algo semelhante. E ela acha isso chique porque pensa nessa "bruxa" queimando sutiã em Paris no século 14.Não conheço ninguém que tenha sido uma aborígene insignificante (sem querer ofender os aborígenes, é claro, trata-se de uma cultura sem a qual o mundo não sobreviveria).Coitadas dessas "bruxas". Para começar, pelo menos no universo entre o que chamamos hoje de França, Bélgica, Holanda e Alemanha (região do rio Reno), entre os séculos 13 e 15, essas mulheres não se diziam bruxas, mas sim cristãs puríssimas.O famoso livro "Martelo das Bruxas" (Malleus Maleficarum, para os íntimos), escrito no século 15, era um manual para "lidar" com essas cristãs "béguines" (termo sem tradução decente em português porque chamá-las de "beatas" é maldade).Quando você ouvir alguém se referir a essas mulheres como "bruxas", tenha certeza de que ele não sabe do que está falando. Caras como os que escreveram o "Malleus" é que chamavam essas mulheres de bruxas. Elas falavam de Deus, de caridade, de amor, de conhecimento "direto de Deus" e seus desdobramentos (aqui residia o principal problema). A partir do século 17, mais ou menos, passamos a chamar essas mulheres de místicas.Anos atrás, comecei a pesquisar alguns textos dessas místicas medievais. Interessava-me o fato de que muitas delas tinham sido consideradas hereges.Entre 1994 e 2003, entre Paris e Marburg (Alemanha), me dediquei a duas delas mais cuidadosamente, Marguerite Porete e Mechthild von Magdeburg.A primeira foi queimada como herege em 11 de junho de 1310, em Paris, place de la Grève (reza a lenda que não deu um pio enquanto ardia na fogueira). A segunda morreu uma morte razoavelmente tranquila em alguma data desconhecida entre 1282 e 1294, num mosteiro, apesar de ter passado por apuros com a Inquisição e de ter sido ajudada, pelo que parece, por um amigo ou primo abade poderoso da região.O título do livro queimado com a Porete é Le Miroir des Simples Âmes Anéantis (o espelho das almas simples e nadificadas). Já o da alemã que escapou do pior é Das fliessende Licht der Gottheit (a luz fluente da deidade).Ambos trazem a marca dos excessos dessa escola mística chamada de renana: elas e Deus são da mesma substância, de onde se deduz, entre outras coisas, que elas não precisavam seguir códigos morais exteriores como os que não sabiam o que elas sabiam.Elas ("almas liberadas", "nadas divinos") eram sem "matéria de criatura", logo, Deus. A Igreja e (quase) todo mundo via nisso simples soberba desmedida.A esse "erro de doutrina", o Concílio de Viena de 1313, sobre essas "béguines", chamou de "confusão de substâncias".Se recuperarmos o que nos diz o grande historiador Huizinga em seu "Outono da Idade Média" (ed. Cosac Naify), a execução desses hereges era um "domingão no parque".As famílias iam com seu ovo duro, suas músicas prediletas (estou fazendo uma adaptação irônica do texto de Huizinga aos dias atuais), seus cachorros, e faziam tai chi enquanto esperavam a criminosa chegar. Os homens comparavam seus cavalos ou carroças e as mulheres se vangloriavam, em silêncio, por seus belos seios e belas pernas. As feias, como sempre, ficavam bravas com o sorriso seguro das mais graciosas.Mas o melhor mesmo era o interesse das crianças e os tomates podres que seus pais davam para elas para que brincassem de jogá-los nos hereges. Alguns pais se emocionavam com a precisão de alguns de seus pequenos príncipes.Herege, hoje, é chique, mas lá, você estaria jogando pedra nela como numa "Geni". Você a veria como se vê hoje um pedófilo, um reacionário, um capitalista porco, enfim, um desgraçado, uma prostituta, que todo mundo diz que é "bonitinha", mas todo mundo detesta (menos os consumidores).





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